A casta Alfrocheiro representa uma das joias mais enigmáticas do património vitícola português, sendo reconhecida pela sua capacidade única de produzir vinhos tintos de excecional qualidade e cor intensa. Esta variedade autóctone, também conhecida como Alfrocheiro Preto, estabeleceu-se firmemente nas principais regiões vinícolas portuguesas, destacando-se particularmente no Dão, onde encontrou o seu terroir ideal, e expandindo-se com sucesso para o Alentejo, Bairrada e Ribatejo. Ausente dos escritos antigos, a Alfrocheiro pensava-se ser uma casta recente, mas hoje a ciência revela que é uma das mais antigas, sendo progenitora de castas como Castelão e Moreto. A sua misteriosa origem e aparecimento tardio na literatura vitícola apenas no século XX, após a crise filoxérica, acrescentam fascínio a esta variedade que tem conquistado crescente reconhecimento entre enólogos e apreciadores de vinho português.
Os vinhos Alfrocheiro caracterizam-se por uma personalidade marcante e distintiva, apresentando cor rica e um bom equilíbrio entre açúcar e acidez, com taninos médios que produzem vinhos aromáticos com notas de amora e ginja. No nariz, revelam aromas de frutos silvestres como amora e framboesa, bem como morango maduro, podendo surpreender com notas de alcaçuz e toques de especiarias. A casta demonstra uma notável capacidade de manter boa acidez natural mesmo em climas quentes, tornando-a uma aliada valiosa face às alterações climáticas. No palato, os taninos gordos e bem integrados proporcionam uma textura aveludada, criando vinhos com excelente potencial de envelhecimento que evoluem de cores granada intensas com reflexos violáceos na juventude para tons rubi com maior complexidade aromática ao longo dos anos. Esta versatilidade posiciona o Alfrocheiro como uma casta fundamental para o futuro da enologia portuguesa, oferecendo aos produtores uma ferramenta preciosa para criar vinhos de terroir autênticos e de qualidade superlativa.